terça-feira, 31 de março de 2009

Míope


Ninguém mais enxerga
os babados de uma roupa
tão de perto
ou o fino pó brilhante
incrustado numa pétala de flor

Não enxergo bem uma árvore
assim tão grande
mas te mostro
as nervuras de cada folha

Não se enxerga
um restículo de sabão num copo limpo
porque todos enxergam
muito bem de longe

Eu posso não ver bem
os rostos passando
mas ainda posso vislumbrar
os fractais de uma retina

Eu não enxergo bem
o que escrevo
mas sei exatamente
a textura da tinta

Eu mal consigo ver pela janela
pois não é isso o que sinto pelo mundo
É um Monet com Van Gogh que eu não entendo
Poderia cortar as orelhas e ficar mudo.

Um comentário:

  1. Esse é de uma daquelas angústias necessárias que fazem a gente continuar vivendo (lutando) e que me fazem escrever. Necessário é reconhecer-se míope.

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