domingo, 5 de dezembro de 2010

A chuva cobre as coisas de ruído


A chuva cobre as coisas de ruído
rompe o pó e dissolve as pegadas.
Todos os rastos e restos
vão-se com seu horror e seu tédio
empoçar outros olhos
entupir calhas mais além.
Por ora tudo se lava
em reflexo e ruído
e lama.
Cada ruído destila o próprio eco
abafando o som de cem mil gemidos
no tamborilar de um só lânguido chiado:
A chuva
cerra as janelas do mundo
e mofa suavemente as roupas.
A chuva sussurra o sono.
A chuva redime a memória.
A chuva
trouxe o sol.