tag:blogger.com,1999:blog-73712783979241162002024-03-21T13:00:19.379-03:00TranslúcidaLuciana HenriqueLuciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.comBlogger16125tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-24803403101716791372011-12-22T10:59:00.004-02:002011-12-22T11:53:55.330-02:00Retrato<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDg5TkBumGqhkAgsy-JtS9rjpf50h3Ne2iEaAkiNL8DfzDZKVaBadF3mISZJfCe0rdW2rpWdQoLTW1N0Kx5eyCUmEhwDZ1Xl_ACzCvaFrzvBJ093mTrs1c0RiCSRewskolN6T3wJNJhIA/s1600/m%25C3%25A3o+de+uma+senhora.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 190px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDg5TkBumGqhkAgsy-JtS9rjpf50h3Ne2iEaAkiNL8DfzDZKVaBadF3mISZJfCe0rdW2rpWdQoLTW1N0Kx5eyCUmEhwDZ1Xl_ACzCvaFrzvBJ093mTrs1c0RiCSRewskolN6T3wJNJhIA/s320/m%25C3%25A3o+de+uma+senhora.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5688950599479242914" /></a><br />A avó balbucia<br />memórias ocultas<br />sob a língua dos velhos:<br />o mistério dos anjos que dão conforto<br />a quem vive muitos anos.<br />Ela conta os botões da roupa<br />com as pontas dos dedos e<br />desliza a pele solta<br />sobre os metacarpos.<br />Suspira sem dor,<br />invoca aos céus por hábito,<br />espanta um gato.<br />A cada dia revive<br />- a alma em estado de paisagem intermitente.<br />Não é preciso dentes ou garfo.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-12340253648172810632011-10-17T00:38:00.004-02:002011-10-17T08:34:54.183-02:00QuixotescoSobre a grama espessa<br />os castelos<br />migram e pousam sempre<br />mais adiante<br />Quem os persegue?<br />Um quixote?<br />Um templário?<br />Pergunto ao Lunário Perpétuo<br />pra onde vão os castelos<br />poemas palmilhando cadernos.<br />Ali e adiante,<br />imolar outro verso,<br />perseguir o horizonte,<br />o reflexo.<br />Onde os castelos?Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-22379630341093076462010-12-05T09:35:00.002-02:002011-10-17T11:47:00.692-02:00A chuva cobre as coisas de ruído<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDs-RWksyGIQgR56kL3CL-9GMCThjPhV1PybVDp4NcMY6z2vM3Z0NBFD0xZkszbgGHb63gYW8OxyzYu8qfSwGWtJarOZ8nNK3rwDgmThseayvSu_IxIoMIfOwgi6ZzgV8u5dRqPPKpwFM/s1600/chuva.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDs-RWksyGIQgR56kL3CL-9GMCThjPhV1PybVDp4NcMY6z2vM3Z0NBFD0xZkszbgGHb63gYW8OxyzYu8qfSwGWtJarOZ8nNK3rwDgmThseayvSu_IxIoMIfOwgi6ZzgV8u5dRqPPKpwFM/s320/chuva.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5664457122152795106" /></a><br />A chuva cobre as coisas de ruído<br />rompe o pó e dissolve as pegadas.<br />Todos os rastos e restos<br />vão-se com seu horror e seu tédio<br />empoçar outros olhos<br />entupir calhas mais além.<br />Por ora tudo se lava<br />em reflexo e ruído<br />e lama.<br />Cada ruído destila o próprio eco<br />abafando o som de cem mil gemidos<br />no tamborilar de um só lânguido chiado: <br />A chuva<br />cerra as janelas do mundo<br />e mofa suavemente as roupas.<br />A chuva sussurra o sono.<br />A chuva redime a memória.<br />A chuva<br />trouxe o sol.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-64632074476324886242010-05-14T00:20:00.002-03:002010-05-14T01:24:37.375-03:00PessachA noite passou sobre as flores e os carros sua língua fresca <br />As janelas e as sarjetas todas espreitam <br />os muros ecoam o ruído inaudível da luz<br />e o asfalto insone espera.<br />As camas desfeitas, os sapatos e a pia celebram<br />a fagulha acendendo as retinas das coisas <br />o pó e o planeta se apercebem de si<br />cada instante em que o sol os toca.<br />O Amor é tão grande <br />que também os mortos e os óvulos rejubilam<br />enquanto o orvalho seca.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-11499471700340329632010-05-03T19:45:00.002-03:002010-05-03T19:53:28.601-03:00AntesQuanta dor pode vir<br />da flor de plástico,<br />do tempero moderado,<br />dos legumes a vapor.<br /> <br />Temo a cor crua,<br />o bom-dia involuntário<br />Temo a moça nua no espelho<br />com os olhos quebrados<br />a boca prevendo o bocejo.<br /> <br />A terra por dentro viceja<br />coberta de pó e pedra<br />o verso monocorde<br />reverbera:<br />mariposa imóvel no quarto.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-71742062837045314532009-04-25T10:50:00.002-03:002009-04-25T11:19:24.461-03:00Caminho<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGxzos6RmhEliBtXNTZGhej2BUX7KE_kdGY2LuHyRSF2bfzTArlva4qtsw17mPz98ZFL7SFvv3gbuWDPEpU9iaRVDOSgB9uCEPvANceB7ksD1_yb9XaW7G3cE7KUmwHNOiadD_IkKHSkY/s1600-h/gota+na+folha.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 238px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGxzos6RmhEliBtXNTZGhej2BUX7KE_kdGY2LuHyRSF2bfzTArlva4qtsw17mPz98ZFL7SFvv3gbuWDPEpU9iaRVDOSgB9uCEPvANceB7ksD1_yb9XaW7G3cE7KUmwHNOiadD_IkKHSkY/s320/gota+na+folha.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328633446231348082" /></a><br />As minhas mãos estão quentes <br />meus pés estão sujos de lama<br />A lágrima eclode nos dentes<br />versinhos de porcelana<br /><br />Um sopro verde aos ouvidos <br />calmo e volumoso como grama<br />Novembro tem cheiro de chuva<br />Dezembro tem gosto de manga<br /><br />Esfera macia e morna<br />O ventre, a decomposição<br />A árvore, nuvem frondosa <br />desponta rebentos no chão<br /><br />O frescor amarelo das formas <br />enche as rosas de ilusão<br />Umas já formam balaio<br />Outras rebrotam botão.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-78303542210138670952009-04-25T10:49:00.000-03:002009-04-25T10:50:00.955-03:00Onze filhosOnze filhos eu teria para devotar-lhes<br />o meu amor inativo<br />e minha maternidade cabisbaixa.<br />Me orgulharia dos meus onze filhos.<br />Todo o meu trabalho inventivo<br />permaneceria para dentro dos ouvidos.<br />Minha dor ficaria ignorada<br />- bisturi esquecido na cesária.<br />Todo amor apaziguado<br />nas roupas sujas dos meus onze filhos.<br />As toalhas brancas, as contas de luz,<br />os panos de prato, as calças vincadas.<br />Toda fé ficaria investida<br />nos domingos e festas de guarda.<br />Todos os sonhos contidos<br />nos brinquedos quebrados<br />nos documentos perdidos,<br />nos rosários, nas anáguas.<br />Toda mágoa diluída<br />no leite dos meus onze filhos.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-4414698003474864582009-04-25T10:38:00.000-03:002009-04-25T10:39:53.317-03:00DesesperoCaminhava muito<br />e caminhava a esmo<br />e caminho ainda<br />e ando e fujo<br />sem me lembrar por quê<br />(não sabia mesmo)<br /><br />Passo por viadutos<br />atravesso curvas<br />muitas curvas<br />e já me esqueço<br />para onde<br />para onde<br /><br />Eu ando e como luz<br />com os olhos <br />quando estou triste<br />– por isso nublava<br />por isso fazia escuro<br /><br />Me sentia confortável<br />andando no escuro<br />Não sabia<br />e não sabia mesmo<br />Era bom<br />Vejo os ônibus<br />Eles passam sempre ao lado<br />Não há mais ninguém<br />exceto eu mesma <br />atrás de mim<br /><br />É do que me lembro<br />de quando pergunto<br />de quando me lembro<br />de olhar para trás<br /><br />De olhar para trás<br />via a mesma paisagem<br />que me acompanhava:<br />um eu que andava<br />e andava<br />e olhava pra mim<br />por cima do ombro direito<br /><br />Caminhava a esmo<br />e caminho ainda<br />só sei que fujo<br />nem sei do quê<br />nem sei pra onde<br />nem sei por quê.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-17048263942162165792009-04-25T10:25:00.002-03:002009-04-25T10:38:25.941-03:00I bike 2<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFxuWYElmUoU51kEL1BVf5NcIIVWdTpQqWRfG5rUK7JGwHuquiqIpVoOFSACvoMfQmfc8-8G6fnDj1bmDEUihtIJQRTN8iBoQJ-q3Ug-EUPtxfZW2cj7s4h2uHXs2LY-bJ3lo4qWEtwA/s1600-h/bike.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 181px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFxuWYElmUoU51kEL1BVf5NcIIVWdTpQqWRfG5rUK7JGwHuquiqIpVoOFSACvoMfQmfc8-8G6fnDj1bmDEUihtIJQRTN8iBoQJ-q3Ug-EUPtxfZW2cj7s4h2uHXs2LY-bJ3lo4qWEtwA/s320/bike.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328622895342678354" /></a><br />Decanto as poças de chuva<br />nos pneus da bicicleta<br />e o mormaço me sobe nas pernas<br />e a frescura me expande as narinas<br /><br />Uns dizem que isso dá gripe<br />A mim me dá alegria<br />quando muito, melancolia<br />de quem atravessa a existência<br />pela grande boca da História<br />com a tácita incumbência<br />de erguer o peso dos dias<br />com todo incômodo trágico<br />da Essência.<br />Com todo sofrer (ridículo)<br />de poeta<br />de saber-se inútil<br />e inútil ficar<br />– um Prometeu sem grilhões,<br />que enquanto anda de bicicleta<br />não nota <br />que é só alguém que anda no mundo<br />e pensa<br />que o mundo é que gira sob suas pernas<br /><br />A melancolia é rica<br />– um passo atrás do desespero<br />A alegria vai-se<br />a gripe passa<br />e eu <br />continuo a andar de bicicleta.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-16959108434464845992009-04-02T22:55:00.003-03:002009-04-02T23:03:11.586-03:00Banho-maria<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPf7I0dw_lnunhio8yJQ2si7LSxZJlarb9DTRA5bsVZ3tJVeg5meiU4m0d3w2GuI-T0GSP0hG-vKqjFjUQRkMWbFEZ9Jo79yS5LvqJaFE94rfkEfHCRscvyTcWr13-q7wcKq7_dHfkUXM/s1600-h/borbofone.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 278px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPf7I0dw_lnunhio8yJQ2si7LSxZJlarb9DTRA5bsVZ3tJVeg5meiU4m0d3w2GuI-T0GSP0hG-vKqjFjUQRkMWbFEZ9Jo79yS5LvqJaFE94rfkEfHCRscvyTcWr13-q7wcKq7_dHfkUXM/s320/borbofone.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5320279859752231314" /></a><br /><br />Os ecos gramofônicos<br />de sua voz sob o chuveiro <br />vão encontrar Pasárgada <br />em um longo fevereiro.<br /><br />Os restos burocráticos do dia,<br />sob o chuveiro,<br />derreterão como gotas de limão<br />no tempo de um beijo.<br /><br />Sempre um pouco de ti<br />– cheiro, sapatos, cabelo –<br />vai deixando rasto pela casa<br />e pelo mundo inteiro.<br /><br />E o mundo fica a lembrar de ti,<br />absorto, alheio a si,<br />enquanto você sonha indiferente<br />sob o chuveiro.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-77540722934143032112009-03-31T19:24:00.003-03:002009-03-31T19:29:58.522-03:00Menina sem dedo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJEhGK0FWrWOPKoiHc3OhCmkTkzOLOZRkn0m8PwQiLdaUmWdzW8VisDVzYEpkUrVxg_eY7NGF9a-RYIv75va0FsKSSvvPHVeEtdDRq-qa7CtKseeYkIl5bi_G3ztMUyj5J31Ka2xuU1Nc/s1600-h/translucida+1+copy.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 306px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJEhGK0FWrWOPKoiHc3OhCmkTkzOLOZRkn0m8PwQiLdaUmWdzW8VisDVzYEpkUrVxg_eY7NGF9a-RYIv75va0FsKSSvvPHVeEtdDRq-qa7CtKseeYkIl5bi_G3ztMUyj5J31Ka2xuU1Nc/s320/translucida+1+copy.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319482731953114962" /></a><br /><br />Uma planta perdeu muita água porque não chovia.<br />Uma menina perdeu um dedo;<br />chovia, contudo.<br /><br />A planta perdeu algumas folhas, sofria.<br />A menina já não sofria muito,<br />todavia faltasse um pedaço.<br /><br />As duas se olharam no parque, e havia<br />um desespero calado.<br /><br />Choveram na planta, um dia<br />e voltaram a crescer seus braços.<br /><br />A menina sem dedo, <br />sem dedo aprendia, <br />escrevia com outro lado.<br />Brincava de balanço, sorria, <br />mas faltava sempre um pedaço.<br /><br />E a planta morreu, um dia.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-85680897006950805282009-03-31T19:10:00.001-03:002009-04-02T23:04:33.986-03:00Atrás das retinas do teu retrato<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpZe_Qtx3d-eVXp7eMoQuIlUxsTQVmwFFc6nddPyv8HbwR0kDQxoDMGb-X5X_2n4pr4tY50wMeJeSlSmQ1TBfxjsmi9zte4BDf3MPmupRCBu8B-aXdBouAwYSL4jpryRUhDuASNgzabD8/s1600-h/olhos.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpZe_Qtx3d-eVXp7eMoQuIlUxsTQVmwFFc6nddPyv8HbwR0kDQxoDMGb-X5X_2n4pr4tY50wMeJeSlSmQ1TBfxjsmi9zte4BDf3MPmupRCBu8B-aXdBouAwYSL4jpryRUhDuASNgzabD8/s320/olhos.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5320280214601012498" /></a><br />Atrás das retinas do teu retrato:<br />Teus sonhos opacos e extratos bancários<br />Tua gasolina, teu ócio arbitrário<br />Teus exames médicos, teu vocabulário<br />Os teus fluidos, teus copos, teus pratos<br />Teu sono fácil, teus documentários<br />Teu cheiro ambíguo e teu calendário.<br /><br />Atrás da superfície de teu contato:<br />As tuas vésperas e teus colapsos,<br />Os teus detergentes e teus formulários<br />Os teus gostos e teus gastos<br />Teu nome, teu nome, silêncio binário.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-79834303999778284382009-03-31T18:54:00.002-03:002009-03-31T19:03:57.891-03:00Míope<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_mhNUeaSs6L0KRCa26K7CfkKnqdOS-29MvFL-WBEemDQjogWcv_u4AgQ7zajI1GsDNPGI8bR77wyVw9VLnrqa9L5edMH_Pg43RAnizMLVk0sywUftbjXS5uHufOcvKTKZ_I_DjRwYQ88/s1600-h/gota+d%C3%83%C2%A1gua+na+flor+amarela.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 215px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_mhNUeaSs6L0KRCa26K7CfkKnqdOS-29MvFL-WBEemDQjogWcv_u4AgQ7zajI1GsDNPGI8bR77wyVw9VLnrqa9L5edMH_Pg43RAnizMLVk0sywUftbjXS5uHufOcvKTKZ_I_DjRwYQ88/s320/gota+d%C3%83%C2%A1gua+na+flor+amarela.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319476026483989250" /></a><br />Ninguém mais enxerga<br />os babados de uma roupa<br />tão de perto<br />ou o fino pó brilhante<br />incrustado numa pétala de flor<br /><br />Não enxergo bem uma árvore<br />assim tão grande<br />mas te mostro <br />as nervuras de cada folha<br /><br />Não se enxerga<br />um restículo de sabão num copo limpo<br />porque todos enxergam <br />muito bem de longe<br /><br />Eu posso não ver bem <br />os rostos passando <br />mas ainda posso vislumbrar<br />os fractais de uma retina<br /><br />Eu não enxergo bem <br />o que escrevo<br />mas sei exatamente <br />a textura da tinta<br /><br />Eu mal consigo ver pela janela <br />pois não é isso o que sinto pelo mundo<br />É um Monet com Van Gogh que eu não entendo<br />Poderia cortar as orelhas e ficar mudo.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-17270703325794706722009-03-31T18:37:00.001-03:002009-03-31T18:45:15.994-03:00Vestígio de genteUm passarinhar contente<br />Um mormaço flácido<br />de chuva antes do poente<br />Um frescor quase quente<br />de pastilha que refresca o hálito<br />Surpresas olfativas de fim de tarde<br />e conversas distantes<br />e música antiga<br />evocando perdidas<br />perdidas<br />lembranças de cadeiras nas calçadas<br />e das redes içadas, perenes<br /><br />Vestígios de gente<br />sem gente haver<br />Como a cama que abrigou o sexo<br />desarrumadamente<br />esfuma também um crepúsculo ralo:<br />um mormaço flácido de chuva <br />antes do poente.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-68964409236727863442009-03-29T14:26:00.003-03:002009-04-02T22:55:01.946-03:00Memória futura<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD8v5zZ0itPuPkX86qgt5YRQr0T4V6HectOwXM8Qsach-uTj3eAnf98tR46_FA0RJI_d-ug4cZ_SHsasAH7Y0gq20uDjPG5D0pSUi6xN_1hYeNxK94PmUIK5YRbCt3IXMXNq-2rpXa58o/s1600-h/libelula.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 211px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD8v5zZ0itPuPkX86qgt5YRQr0T4V6HectOwXM8Qsach-uTj3eAnf98tR46_FA0RJI_d-ug4cZ_SHsasAH7Y0gq20uDjPG5D0pSUi6xN_1hYeNxK94PmUIK5YRbCt3IXMXNq-2rpXa58o/s320/libelula.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5318745734739425202" /></a><br />"Havia pombos que arrulhavam em redor de Josefina<br />e libélulas que valsavam com seus vestidos de gaze<br />e seus adereços de ametista."<br />Cecília Meireles<br /><br />Eu fico penteando-me com muita força<br /><br />para que não me fujam as borboletas. <br /><br />Se o vento cheirasse a amêndoas amargas<br /><br />eu amava um estranho com muita ânsia.<br /><br />É necessário o feno e é necessário o trigo.<br /><br />É perigoso o instante<br /><br />cru, desabrido<br /><br />para os que não são pobres de coração.<br /><br />Lépido é o dia alaranjado e morno como as libélulas<br /><br />e suas larvas voracíssimas.<br /><br />A vida me agrada<br /><br />por não ter eu visto muito<br /><br />e ainda sentido tanto.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7371278397924116200.post-46253765547843536532009-03-29T10:33:00.002-03:002009-03-31T18:36:55.426-03:00Cnidária<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07IlfiN-rgD8LsfYzPVgHhgHIt9GbIsbSYFPpLGpsZ4BF8tkaPmnR2kfiTPTk9mJg0jnhRXJGx2TXRHWegL3-esjOpsC-0JFw0QYdsaBz4PqwfbkfEIr7iibZTqJFWmirRuPqjzd_Dow/s1600-h/cnidaria.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07IlfiN-rgD8LsfYzPVgHhgHIt9GbIsbSYFPpLGpsZ4BF8tkaPmnR2kfiTPTk9mJg0jnhRXJGx2TXRHWegL3-esjOpsC-0JFw0QYdsaBz4PqwfbkfEIr7iibZTqJFWmirRuPqjzd_Dow/s320/cnidaria.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319469034861662578" /></a><br />Quero ser seda colorida<br />dançando debaixo d'água.<br />Cnidária.<br /> <br />Ser pano de pára-quedas<br />sem parar nada<br />pairando no topo do mundo<br /> <br />Não ser o olho atrás da janela<br />olhando a paisagem<br />nem ser a paisagem,<br />que há de caber na tela,<br />no poema.<br /> <br />Quero ser plena:<br />musgo sobre a pedra,<br />que não se dá a contemplar<br />e que não enxerga.Luciana Henriquehttp://www.blogger.com/profile/10820750916716940182noreply@blogger.com0